SOBRE
A proposta para a oficina de fotografia, desde antes de tudo isso acontecer, era lermos juntos “A invenção de Morel”, de Adolpho Bioy Casares. Sempre achei que essa ficção do escritor argentino (segundo Borges, o livro mais bem escrito da história da literatura) constituía o melhor tratado sobre imagem do século XX.
Desafio lançado quando de repente, sem prévio aviso, estávamos todos replicando a situação do fugitivo protagonista do livro: isolados em nossas próprias ilhas. E sujeitos anos enfrentar com as imagens que as habitam.
Dessa forma foi lançada a proposta: que imagens habitam na sua ilha?
Casares teve a companhia de outros tantos autores nesse percurso em torno de nós mesmos, como Georges Perec e seu homem que dorme, Kieslowsky e as duas Veroniques, Peter Greenaway e a ultima tempestade, Sokurov na Elegia da Travessia e tantos outros…
Dessa forma, muito bem acompanhados nos nossos isolamentos, fomos cada um co-habitando com as imagens da maneira que era possível: desde os muitos interiores que nos eram permitidos, sucessivamente gerando novos dentros a se espelhar, se reproduzir e até a fabricar a ilusão de externas, especialmente quando se mesclava à camadas de memoria e à vontade de sair à modo de náufragos, de nos salvarmos do que amamos e odiamos nas nossas ilhas.
Os ensaios geraram narrativas, fotolivros e filmes que estão aqui dispostos a modo de arquipélago.
IlhadaIlha é uma exposição virtual decorrente dos trabalhos realizados na disciplina "Oficina de Fotografia II", do curso de Artes Visuais da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) 20 de julho de 2020, Campo Grande/MS/Brasil (1o semestre de 2020/ pandemia de coronavírus/ ensino remoto).